Hoje eu tenho hábitos realmente bastante saudáveis (às vezes até demais), mas tudo isso não começou do dia para a noite. Ainda na pré adolescência comecei a me interessar pelos alimentos que me faria mal ou bem. Inicialmente os cuidados eram mais voltados para a vaidade – o que me daria celulite, deixaria a pele bonita e assim por diante. Apesar das tardes naturebas de beleza que fazia com minhas amigas nos finais de semana, sempre acreditei que a saúde vinha de dentro pra fora. Também tinha um certo incentivo em casa quando à mesa minha mãe costumava ressaltar os benefícios dos alimentos (“cenoura é bom pra visão”, “peixe é bom pra memória” – aquelas coisas de mãe).
Na época era uma adolescente que se cuidava, mas também adoraaaaava um doce. Eu era uma formiga, comia pensando na sobremesa e uma vez até passei mal e fiquei vomitando de tanto bombom de morango (daqueles caseiros) que comi em uma festa. Por este e outros fatores (que com o tempo fui entendendo), no mesmo período sofria intensamente de dores de cabeças diárias, tonturas, “queda de pressão” (que na verdade era hipoglicemia) e sempre tinha algum incômodo no corpo (minha mãe me chamava de Maria das dores pra vocês terem noção!).
A primeira mudança de hábito que mais me marcou foi aos 12 anos quando decidi não tomar mais refrigerante. Na minha casa, ele só entrava nos finais de semana, mas mesmo assim decidi que não tomaria mais. E com esta primeira atitude senti na pele o que era decidir mudar. Os familiares questionavam, não entendiam, tentavam me fazer burlar falando que era só naquele dia. Também tiveram as vezes em que me sentia de certa forma humilhada, quando alguém falava alto “ela não toma refrigerante” como se aquilo fosse uma aberração. Depois tinham as festinhas e eventos, onde raramente tinha água (graças a Deus isso mudou!) e eu muitas vezes bebi escondida água da torneira do banheiro para matar a sede.
Com o tempo fui me adaptando. A garrafinha de água passou a ser meu apêndice, a carregava pra todo lugar.Aos poucos passei a ser reconhecida por minha nova identidade, as pessoas já sabiam que eu não bebia refrigerante e não me ofereciam mais e algumas até se adiantavam preparando um suco. O mais engraçado é que as pessoas se incomodavam em servir somente água (e isso ainda acontece!). Como se oferecer algo que não tem sabor ou marca fosse ruim, pouco empático ou pouco luxuoso. Mas era e ainda é o que eu geralmente peço, “só uma água por favor!”.
Desde que fiz esta mudança nunca mais bebi refrigerante, e para falar a verdade não me lembro de ter sentido vontade. Já aconteceu uma vez de beber do copo de outra pessoa pensando que fosse outra bebida, e achei aquilo intragável de doce (meu paladar já estava reeducado).
Esse processo de mudança que passei na minha adolescência me fez refletir sobre alguns aspectos que estão envolvidos em todo tipo de mudança, principalmente as mudanças de hábitos.
Posicionamento
Um dos passos mais difíceis de mudar é ser reconhecido por sua nova identidade pelos outros. Por exemplo, um fumante. Sua identidade é ser um fumante. A partir do momento que ele não fuma mais, tanto ele quanto as pessoas demoram um tempo para recolocá-lo em suas conexões mentais, desassociando imagens, programas, objetos e sentimentos que o ligavam àquele hábito.
Muitas vezes as pessoas se preparam para nos agradar com o que gostamos, e quando decidimos não gostar mais daquilo pode parecer que iremos ofendê-las, mas aí vem a importância do posicionamento.
Posicionar-se é assumir sua nova identidade, apresentando seu novo eu para o outro. A compreensão do outro pode ser melhor entendida se você lhe explicar os motivos pelo qual decidiu mudar, deixando claro que não é nada pessoal e que a mudança é recente, mas definitiva. É importante deixar claro e não disfarçar, pois só assumindo sua nova postura as pessoas passarão à reconhecê-lo como tal.
Firmeza
A firmeza é necessária tanto para você se manter firme na sua mudança quanto adquirir coerência em seu posicionamento. Se você hora toma uma atitude de mudança, ora volta a sua atitude antiga vai ter dificuldade em restabelecer seu novo posicionamento, tanto para você quanto para os outros. Por exemplo, você decide virar vegetariano, mas sempre que não tem outra opção acaba comendo carne. Para aqueles que estão de fora, fica confuso entender qual o seu real posicionamento, e para você mesmo fica confuso assumir o que realmente quer.
As situações não serão sempre as mais favoráveis para sua mudança. O mundo não vai mudar só porque você decidiu mudar. A preguiça, o convite tentador e a pouca praticidade serão algumas das barreiras que podem se levantar. Mas é preciso assumir o seu novo eu, e com o tempo você vai aprendendo a se adaptar melhor às situações, e as pessoas também estarão melhor preparadas para suas novas escolhas.
Influência positiva
Quando decidimos ser diferente do que éramos é como se precisássemos ser aceitos novamente nos meios sociais em que convivemos. Isso pode gerar insegurança, medo e trazer o sentimento de exclusão. Mas ser diferente pode ser visto de duas formas, o excluído ou o vanguarda. Quando você se vê como vanguarda, assume a postura de líder e motivador dos outros. E se você está certo de que sua nova escolha é boa para você e pode ser para os outros, pode se assumir como um incentivador e promotor de mudança no seu meio, o que irá facilitar o seu próprio processo.